terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Ame como um gato astuto

Agora não mais escrevia, parei e fui debruçar a janela, estava eu apaixonado, e tudo era vermelho, um arvoredo vermelho, uma casa vermelha, lindas flores vermelhas, a tarde avermelhada , já saboreava o tempero doce da lua. Animei-me com os pássaros, eram brancos, batiam suas asas a ritimos musicais, iam, pobres voadores, no ritimo de suas vidas, esses sim eram amigos apaixonados do horizonte, eram poque o buscavam.
Voltei-me agora para a sacada, as paredes estavam frias, de uma textura torrida que corria-me os dedos, mas queria meu coração que a esquenta-se, e logo a casa poi-se a ferver; dançava a cama, a comoda, a porta, e todo aquele lar mundano poi-se a compassar no rítimo amoroso de dois corações: "Oh deus? tu que fizeste o amor e entregaste aos homens, diga a eles, como se desembrulha este presente sem que se rompam os laços", que mente fervorosa! que alegria insana, uma vez apaixonado o homen se alegra com a folha, se o vento a leva; rimos, se ela volta ao arvoredo; sentimos, se a esmagamos queremos ser esmagados.
Mas quando a brisa bateu até os pelos de minha mão debruçaram inquietos de um canto a outro, passei a observar a árvore, era sim uma arvore ! uma bela família de folhas, belos braços de galhos; que bela mãe gentil. Ali moravam alguns , bentivis, eram poucos, mas alegravam-me pela manhã, punha-me as vezes a delirar com a fumaça do café, era um devorador de livros, um amante incondicional da opera dos bentivis, um cientista em busca da cura do amor amado, muito mais que amado, e eternamente amado, de minha amada. Talvez se não a amasse demais não ouviria os passaros! Mas quem não ama, ouve passaros? ou simplismente para aqueles que nunca amaram, os passaros talvez nunca tenham existido, e talvez na arvore também não existam folhas.
Passei a esperar por ela, é claro; espero todas as noites, as vezes a lua parece fraca, mas não a deixo ir, não! Em belos dias a lua vem forte e até vermelha, ali vejo nossa paixão ... muda como a lua que sobe, quente como o sol que desce.
Eu particulamente não gosto de flores, gosto de ti minha amada, porque tu sim sois a verdadeira flor, amarela tão linda, de petálas brinhantes, encolhida em um regaço vermelho de rosas pálidas. Amo-te porque sois uma flor, mas amo-te mais ainda, porque não estás presa a terra, podes voar feito um passaro.
Era um momento de longa espera, olhei para a televisão, uma velha inimiga, pra que caixas pretas que revelam o que ja vi ? Quero mais, vou a cama, debruçei-me sobre os lençois, eram suaves, azuis! acredite, fiz o favor de pedi-los a loja, que fossem embrulhados com muito cuidado, pois não tinha ferro de passar; mas tenha certeza que não são mais suaves que tua pele, pois se o fosse sonharia todos os dias.
Então havia um gato em minha porta, raspava como faca a velha madeira; corri as escadas, quando o vi era muito jovem ... bonito gato sem botas; cinza de manchas escuras, logo corri suave os meus dedos no seu pescoço, encontrei dois medalhões: em um via-se claramente um coração, no outro alguns nomes em tipografia clássica; o gato era tifi, o dono residia no endereço: entre a Magalhães e a Estrada do Quinze; conhecia o lugar, não havia arvores por ali ! havia campos, fabricas e pouca gente. Enfie o gato em meu casaco; devia levá-lo de volta ao seu lar, era uma penitência minha ajudar o gato, e visto também que me fartava de tempo livre, caminhei ao ócio. Cruzei a rua no âmago de minha agilidade, e com o braço parei o ônibus, corri com o gato a espreita do banco, e eu e o felino desnubravamos as casas do bairro: muitos velhos, e muitos jovens, muitas praças sem namorados, e muitos namorados sem praça. O ônibus cruzou um túnel; era gélido, mas como os seus irmãos havia ali ao final uma luz, que fez me ver o Bairro da Vitória, e suas fábricas volantes, cheia de homens sem compromisso com a calma, onde eram desfabricados os corações. Em Vitória morava o suposto dono do gato, em como a noite que chega, parei ao ponto da praça, ficara bem para trás as sete horas, e ja se estava nas oito e meia, as nove, ainda procurava a rua certa; sem rumo parei entre duas fábricas.
Sim, eram fábricas; uma de mél, outra de azeite. O mel é doce, não se pode negar! O mel é amoroso com nossos corações apaixonados ... o mel sim foi feito aos amantes ! Mas não o digo pela doçura, e sim pelas abelhas; seres pacientes, como devem ser os amantes, contróem a coméia com o que vem das flores, aos poucos fazem o favo, são muitas, e logo conclúem o trabalho, e mesmo conclúindo, continuam amando, por ti, minha abelha rainha.
Na fábrica ao lado, lambusava-se de azeite de oliveira virgem, era cristalino, e, servia-se com o peixe; muito bem amantegado, mas sem espinhas! tu minha amada, não sois o azeite, mas a oliveira, porque não hà azeite no mundo, que não emane do seio de uma oliveira; tu sois como o rio de azeite, atinges a todos, corres nos vales e campos, brinca em cidades, despenca em montanhas, mas como sou o mar, teu amado mar, vens sempre ao meu encontro.
No seio daquele conturbado dia, o gato pulou-me do colo, saiu como uma bala! enganou o pequeno sercado de paus entre as fábricas; a luz de uma pequena casa se acendeu, o gato, teimoso, enroscou-se as pernas da moça. Lá estava minha amada, que gato astúcio, com certeza deve estar sem suas botas.
Amor amado amor, de tão amado é temido como uma fera! ei garoto? Dê ouvidos a Machado de Assis, ame, moças bonitas, mas não se esqueça; que seu amor amado amor, é seu maior inimigo, sim, sabe porque? Porque com ele não podemos lutar. Fui a cozinha, ela logo sentou-se a mesa, havia um bolo improvisado, e uma pequena vela de procissão, entramos em festa! Amor amado amor hoje faço vinte anos, mas com você farei vinte mil.

Paulo Ricardo